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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

10 anos depois (o exílio)


 
 


Fez 10 anos em Agosto passado que me vi entalada nas decisões e enlatada num avião a caminho de Espanha. Assim à traição, num matas ou morres. Um nó no estômago, na garganta e na vida, quando pensava que já nada de tão diferente me voltasse a acontecer. Tinha as memórias de África, das mudanças bruscas da vida nómada. Dos amigos e amores perdidos no tempo. Desta feita com uma filha atrás de mim, para o bem e para o mal, a seguir as minhas pegadas antes percorridas atrás dos meus pais.
Barcelona acolheu-me como soube. Tinha mar à porta de casa, trabalho, fiz amigos e consegui ter momentos felizes.
Há 5 anos, e para manter a tradição, a sina ou lá o que for, mais uma mudança à vista. Ficámos instalados numa cidade na comunidade de Madrid a 30 quilómetros. A história do "estranha-se e depois entranha-se" não tem sido nada assim. Não tenho mar, nem trabalho. Se bem que este último ano consigo gostar mais de cá estar. Vejo beleza e paz. E solidão.
Depois de o meu pai partir em 2008, a minha mãe veio viver comigo.  Tive trabalho durante uns anos, não foi difícil mexer-me, mas agora não tenho. Tenho uma mãe a envelhecer, uma filha a ganhar asas e um marido ausente a maior parte do tempo. E passei dos 50, ou seja, morri para o mundo laboral.
Fiz poucos amigos, não me fascinam as pessoas. Afinal, na hora da verdade é a solidão que impera. A ninguém importa nada a não ser o próprio umbigo e as palavras cheias de significado transformam-se em balelas vazias de acção.
Pergunto-me que raio faço aqui, que tenho de aprender e chego sempre à conclusão que é isso mesmo, enfrentar e aceitar o meu medo da solidão e abandono.
Afinal é assim. Mesmo tendo alguém ao lado ninguém sente o que sinto.

O último acontecimento foi ter de levar a minha mãe para o hospital às 4 da manhã onde ficou internada 48 horas. Lá estava eu, sozinha a ter de entrar com ela para todos os exames que fez, porque não fala castelhano, está surda e quase cega. A minha filha esperava lá fora com o namorado, o marido ausente e eu...comigo.
Felizmente a minha relação com a velhota melhorou muito, porque melhorei eu na compaixão e paciência. Talvez se esteja a fazer a transformação antes do fim, para sanar as feridas.
Entenda-se que gosto de viver, sou alegre por natureza, atenta aos outros, não tenho nenhuma doença grave e sinto-me abençoada. Mas ninguém se sente perfeito e feliz o tempo todo. É treta.
Preciso de forças, porque a vontade às vezes é ficar só de uma vez, como quando se arranca uma árvore pela raíz.


E assim vai o meu mundo, onde está tudo no seu lugar. Crescendo e aprendendo.







segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A minha censura

 
 



Ando cheia de silêncios. A tentar contê-los, engoli-los e esperar que se desvaneçam por falta de importância.
Se abrir a porta vai ser pior.
Aguardemos.